Apaixonado pelo produto

Certa vez agendei uma reunião com uma pessoa muito inteligente e muito dedicada do segmento de tecnologia.

Ele entrou sorridente na sala com seu notebook, sentou, abriu a tela e a virou para mim.

– Quero te mostrar o que nossa solução faz, disse-me ele, entusiasmado.

Desse momento em diante, foram 45 minutos, clicando e abrindo telas, com uma frenética exposição repleta de jargões sobre a maravilha tecnológica.

Minha retenção de tudo o que ouvi deve ter ficado entre 5 e 10%. Hoje seria incapaz de repetir 2% do que eu vi e ouvi.

Pensei nas frustrações que esse rapaz deve passar com a falta de retorno, à altura de seu entusiasmo, de suas apresentações.

Hoje a maioria das pessoas sofre em algum grau com o déficit da atenção. Estou certamente neste grupo.

O grau de retenção para assuntos novos, em geral, é muito baixo, por mais que o assunto seja interessante.

Mas o problema, em si, não é esse.

O apaixonado pelo seu produto acredita que todos os seus interlocutores terão algum tipo de encantamento pela sua “obra-prima.”

E ficam frustrados no vácuo dos retornos inexistentes.

Em uma geração onde os ícones fizeram fortunas em alguns anos, a pressa é inimiga da perfeição, mas amiga do dinheiro.

A ansiedade impera e aflora em cada conversa e e-mails trocados. Resultados, resultados, resultados!

O produto em si, aos olhos do mercado, é o mecanismo pelo qual se realiza uma satisfação, uma expectativa. Nada mais, nada menos.

Quando se apresenta algo disruptivo, muitas vezes essa disrupção está no como, na maneira, no mecanismo, na experiência. Mas não no resultado, na redução dos seus custos ou no delta de benefícios.

E aí vem a frustração. O mercado dá de ombros para engenhocas. Pode ser até bonito de ver, mas para comprar, ninguém se mexe.

E no mundo corporativo isso se multiplica por mil. Zero de encantamento com “shiny things”. O pragmatismo solapa toda euforia que não se traduza em resultados possíveis dentro de uma margem de risco aceitável.

Digo que quando chega uma proposta na mesa de um financeiro, é a hora da verdade. O financeiro pergunta apenas: Porque e porque agora.

Responda e leve a conta.

O como, é entretenimento.

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Stavros

CEO da PaP - Especialista em prospecção B2B

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